sábado, 21 de novembro de 2009

Amor Vendado

Percebo, infeliz, que a perco mais a cada dia.

Dissipam-se com o vento, nossos momentos.

Realidades perturbantes que me impulsionam à liturgia.vento1

Transcendendo os limites de meu “eu”. Mas não me contento.


Busco algo distante, quero algo impossível.

Sei que não sou mais uma possibilidade,

Sou um ser errante e repleto de incapacidade.

Esquivo-me da verdade e iludo-me na busca do intangível.


Tento fugir do óbvio, do lógico:

Que sou nada mais que um sonhador mórbido,

Um romântico infantil,

Um cego condicional perdido em um sonho febril


Mas no fundo eu sei, desconsolado

Que não se perde o que nunca foi eterno

E que não se dissipa o que nunca foi concreto.

E sei, também, que não se esquece o que nunca foi lembrado,


Aquele que nunca foi realmente amado...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Café

Ah! Doce bebida de amargo sabor!cafe_kaufman

Escura como as noites a qual clareia,

Embala-me num ritmo frenético de embriaguês enérgica

E torna minhas noites solitárias uma festa febriu.

  

Canta, elouquente, todas as cores da aurora

E espanta todos os fantasmas mórbidos de minha chata responsabilidade

Fazendo minha alma gritar com uma inebriante alegria,

Aproveitando sua curta chance de ser feliz.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Espera Incondicional

A procuro noite adentro.
Porém, nada além de um devaneio
É a esperança de a encontrar
Perto de meu sorriso, ao alcance de meu olhar.
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Nada além de súplicas me resta
E nada além de sombras notívagas a me consolar.
Não há mais sentimento em minha seresta
Nem caminhos certos há!

Farpas encravadas em meu peito,
Lascas da estaca de seu amor.
A cada passo dado, um aperto.
Após cada despedida, torpor...

Nada me resta, fato inegável, consumado.
Contudo, aguardo
Sem saber oquê ou porque
Mas sabendo que oque eu quero é você.

domingo, 15 de novembro de 2009


Deitado em minha cama, penso em minha vida, amores e alegrias que agora, me parecem tão distantes.

Vejo no teto, manchas escuras do mofo e umidade. E pelas grades enferrujadas da minha janela, um céu cinzento que chora, por já ter visto dias de Sol.

Levanto-me lentamente, pois minhas pernas já não têm o mesmo vigor que outrora pude apreciar. Caminho até o banheiro, onde, na pia que vasa, já se formou uma mancha marrom que caminha em direção ao ralo.

Através do espelho manchado de ferrugem, vejo minha face velha e cansada. Cada ruga representa uma perda, uma dor, uma experiência; cada mancha, uma lamentação. Lavo-o na água turva e com cheiro de ferrugem.

Caminho até a sala e vejo sobre a mesa, pão velho e vinho azedo, restos de uma festa de confraternização, a qual só eu apareci. Ao lado do rádio, que está a reproduzir apenas estática, porta-retratos. Neles, em preto e branco, pessoas jovens e felizes, pessoas se casando, já casadas e com os filhos a posar, jovens solteiros e esbeltos. Grandes amigos, com os quais já passei bons e maus momentos, viajei, namorei. Mas todos já se foram.

No canto da sala, está deitado o Bimbo, meu velho amigo, agora meio velho e cansado como eu. Já não tem o mesmo ânimo de sempre para correr atrás de pássaros e gatos. Vou acariciá-lo e compartilhar com ele esse companheirismo, que tem me consolado por tantas vezes. Mas o coitado não reage, está gelado... Meu velho amigo acaba de me deixar.

Sem muito que fazer ou pensar, vou até meu quarto, novamente. Pego minha melhor roupa de festa: um terno caro e uma gravata de seda vermelha, ambos comidos pelas traças.

Desço até a despensa e pego um whisky 18 anos que nunca abri, agora com uns 30 só e minha despensa. Sento à mesa suja da festa e faço um drink, bebendo direto na garrafa. Dou uma golada que desce áspero. Como eu adoro esse whisky!

Fico sentado apreciando-o. Mas não tenho tempo de terminá-lo, minha cabeça pesa e acabo pegando no sono. E sonho.

Sonho com meu rosto jovem, meus amigos leais, meu cão alegre e hiperativo, festas luxuosas e eu ali, com meu terno e muitas pretendentes esperando para dançar comigo. Estou feliz, pela primeira vez em muito tempo, penso nisso tudo sem mágoa ou saudade. Um momento agradável que parece não acabar.

Está tudo tão bom, que me esqueço até mesmo de acordar.